Amplie a imagem. Vai por mim: compensa!
_ Tudo o que você vê no cinema é mentira, meu filho. Os livros, os filmes, as lendas: mentiras que as pessoam inventam! Nada disso existe!
Assim uma mãe cuidadosa suavizou meus medos infantis, diante de filmes terríveis como King Kong ou O Planeta dos Macacos. O quê? Você não os achou terríveis? Bem, eu era novo demais, talvez...
Agradeço a boa vontade. Acho que dormi melhor em algumas noites daquela infância tão distante. Mas, mãe, acredite: você estava errada.
O que a gente vê no cinema, nos livros, nos contos populares, não são mentiras. São formas diferentes de dizer, cada homem e cada mulher, a sua própria verdade. E a verdade de um indivíduo nunca é uma mentira, mesmo que pareça estranha ou feia demais. O mesmo ocorre com as religiões, que não são mais que a sacralização de um ponto de vista.
Com essa descoberta deixei para trás um mundo muito pobre, onde as possibilidades eram um canteiro estreito e todos pretendiam viver a mesma vida, cercados por um muro de concreto. A arte foi a porta para a liberdade.
Quando você olha para uma escultura, passa pela sua cabeça que ela seja uma mentira? Uma ilusão? Não, é claro. Ela está ali, palpável. Você sabe que ela é resultado da manipulação da matéria-prima e que o escultor imprimiu, com sua técnica, um olhar pessoal.
Da mesma forma, a ficção não é uma mentira! É a arte de modelar a vida e repartir um sentimento diante dela.
Viver em um mundo sem o muro, vez ou outra ainda me amedronta. Nem sempre durmo tão bem como na velha casa de meus pais.
Mas nunca estive tão acordado!
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Gosto mais dos diálogos que dos monólogos. Mande pra cá o que está pensando!