terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ensaio sobre a chatice


Da série "Fotos de Celular dos Gerânios do Meu Jardim". 




Há quem não ache possível, mas eu já fui mais chato ainda!

Fui devoto fiel de uma tradição estúpida: a de aproveitar o momento em que se está com a razão para... Ser chato! Você talvez tenha sido muito mais feliz que as pessoas que conviveram comigo. Talvez tenha trilhado um caminho mais inteligente e nunca tenha tido contato com essa prática sem sentido. Pois veja este relato com curiosidade científica. Como se ficasse sabendo de que modo se comportam os nativos de um lugar exótico .

Situações de conflito acontecem na vida de todos, pelos menos nos da minha espécie. É bom que seja assim! Conflitos servem para ajustar o convívio quando, por algum motivo, alguém está desconfortável ou prejudicado. Nossos antepassados tinham um sistema ótimo para resolver os conflitos: fechar os olhos. Mais especificamente os olhos do outro, com uma pedra enorme na cabeça...


O aumento da população e a progressiva complexidade da vida social exigiram métodos menos, digamos, definitivos.  Assim surgiu a negociação. Eu acho que foi assim, pelo menos. E afinal de contas isso não é um estudo histórico, é o pretexto para que eu dê minha opinião.


Negociar, discutir, é uma arte que comporta todos os estilos, como se sabe. Quando uma das partes demonstra claramente que está certa, surge um momento crucial: o que faz a criatura que está coberta de razão? Eu, por muito tempo, aproveitei a oportunidade para ser chato. Chato, terrivelmente chato! Como se estar certo fosse um cartão verde para derramar sobre o outro um balde de arrogância e mal-humor. Até que, com o tempo, eu me dei conta do óbvio:  quando estou certo, não ganho um direito mágico de ser indelicado, grosseiro, cínico, nada disso! Ganho o prazer de eliminar mais um ponto de atrito e correr para o abraço. Figurado ou literal.



Há muita gente que sofre (e faz sofrer) do mesmo mal. Se você achou que eu era um mutante, sinto muito, isso acontece a todo instante,  é só prestar atenção. Muitas relações perdem o brilho porque a disputa pela razão tem uma sedução a mais: o momento de glória em que se pode ser cruel com o oponente. O que fica mais complicado ainda quando esse oponente divide sua cama, sua casa, sua vida...


Afinal de contas, qual é o nosso objetivo em uma discussão? No trabalho, no trânsito, com o filho, com o irmão, a esposa ou marido, tanto faz: 

O que você busca? 

Ser mais feliz ou repartir a infelicidade com o outro? 

Não tenha pressa em responder. 

Essa é uma daquelas questões em que o mais importante não é a resposta. 


É nunca esquecer a pergunta.


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Conceitos simples

Gerânio bicolor do meu jardim. 
É simples mas é dos amigos!


Gosto de cultivar algumas idéias bem simples, dessas que não fazem sucesso nenhum no mundo sofisticado em que vivemos.

Inteligência, por exemplo: pra que é que serve, mesmo? Certo, certo, é possível passar décadas esmiuçando questões filosóficas envolvidas no assunto. Mas estou falando aqui entre nós, longe dos olhos e ouvidos eruditos do mundo. Fechei a porta, pronto. Só eu e você. Agora me diga: pra que é que serve? Ok, digo minha opinião primeiro. Depois é a sua vez.

Pra fazer a vida melhor, ora! Se não for isso, pra mim não é inteligência. Pode ser qualquer coisa, mas inteligência, não é. Simples! Pode ser a sua vida, a da sua família, dos seus vizinhos, amigos, amada ou amado, sei lá... Mas tem que fazer a vida mais fácil,  mais eficiente, divertida, desenrolada, agradável!

Pra complicar as coisas já existe a burrice, a vaga está ocupada.

Conheço (e você também deve conhecer) gente que estudou muito, dentro ou fora do meio acadêmico, absorveu um volume enorme de informações, consegue impressionar todo mundo com a cultura à flor da pele... E não consegue melhorar nem a qualidade do diálogo com as pessoas com quem convive! Alguns conseguem fazer pior ainda: usam o que aprenderam pra aperfeiçoar o cinismo, lapidar a crueldade, ressaltar o vão que separa quem detém de quem não detém o conhecimento. Veja só: a inteligência como instrumento pra afastar as pessoas! Como caminho pra destruir intimidades, minar o solo das amizades! Não é inteligência, poxa. Simples!

No mundo que imagino e acredito, a inteligência será reconhecida não pelo título ou pela posição da pessoa, mas assim: 

_ Nossa, falei com um sujeito tão agradável hoje! Olha, tivemos um problema no trânsito e, quando eu me preparava pra uma discussão aos gritos, ele me tratou tão bem! Me convidou a resolver a questão com tanto jeito, tanto bom senso, que não tive como reagir de outra forma!  Em cinco minutos, a gente já conversava como amigos. Que cara inteligente! Deve ter estudado muito,  deve trabalhar em alguma coisa que exija muito da cabeça dele... Que diferença que faz, né?

Mas esse mundo ainda está na estufa, crescendo e amadurecendo. Cultivado por uma legião de homens e mulheres que sabem que a inteligência é uma ponte, cuja missão é permitir abraços onde o abismo da ignorância os impedia. 

Pensando nas pessoas que conheci, identifico facilmente as inteligentes. Algumas estudaram muito, algumas não. Mas todas, repartindo o que sabiam, fizeram meu caminho melhor do que era.  Em respeito a esses exemplos, vou tirando lascas da minha madeira e esculpindo aos poucos um sujeito que consegue fazer a vida mais bonita.

Mas agora é a sua vez: na sua opinião, a inteligência serve pra quê?