sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A África nossa de cada dia.


  Leia como quiser, mas eu gosto mais ouvindo a música do texto de baixo.



Se Darwin não tivesse existido, ou se tivesse sido, sei lá, marinheiro ou comerciante, a teoria da evolução não faria parte de nossa história. Eu não teria como saber, olhando para os leões aí de cima, que temos ancestrais em comum e que há uma plataforma muito semelhante em nossas biologias.


Mas teria, ainda assim, um sentimento muito forte de identificação, impossível de evitar. Não dá para olhar esses dois, sem reconhecer com exatidão o sentimento de estar assim, em aconchego, tão pertinho de um igual. Cabeça com cabeça, o silêncio e mais nada...


O que causaria certos constrangimentos, como você pode imaginar:


_ Nosso pai não tá legal!

Ou então:

_ Isso só pode ser coisa do demo!

Ou pior:

_ Credo, se comparando com um leão? Qualquer dia vai se comparar com um jumento! Se bem que aí, talvez, pensando bem...

Mas são apenas hipóteses. Darwin enfretou os contrangimentos e a ira da resistência religiosa por mim.  E, também, isso tudo é só um pretexo para dizer que eu adoro encontrar um semelhante. Quis retratar isso em uma imagem e escolhi os bichanos para fazer uma ponte com o texto anterior, sobre a savana.


Lendo e sendo lido tenho encontrando cabeças bem próximas da minha! Cada uma por um motivo, mas todas deixando a mesma sensação de companheirismo. Gente generosa que me ensina, que me lapida e alimenta de olhares novos sobre o mundo. Prosa e poesia, filosofia e música, humor, drama... E de repente há uma colcha inteira de retalhos, formada por sentimentos, pensamentos e biografias que de tão múltiplos formam uma peça coerente! Tão colorida que me lembra a Poesia em Chita, da Zenilda Lua, que escolheu tão bem o veículo da sua delicadeza!


Rubem Alves, na "orelha" de um livrinho delicioso (Pergutaram-me se Acredito em Deus - Editora Planeta), fala sobre os rituais antropofágicos, lembrando que o que se buscava com eles era apropriar-se das virtudes da vítima. Um canibal não fazia seu ritual por razões gastronômicas. Queria a essência do devorado. Queria o que o outro tinha de forte, de grande, de belo! Quem escreve, ensina ele, oferece seu sangue para que circule no corpo de quem lê. O leitor, então,  assimila ou rejeita esse sangue conforme a afinidade.



Pense em seus mestres mais queridos e veja o quanto deles circula em você ainda hoje. O magistério, como vejo, é o sacerdócio que permite comer da carne alheia, sem diminuir a vida de quem tem a virtude que nos falta. Sorte do Luiz, professor e amigo que pouco a pouco tem me transformado em violonista e continua vivo!



No texto anterior, a Mai falou sobre a presença da África em nosso inconsciente coletivo. Respondendo por mim, acho que faz muito sentido. Quando penso "a duas cabeças", como disse a ela nos comentários, tenho a sensação boa de quem anda com sua manada, ou descansa com sua leoa.  


Enfim: leio como um canibal e ofereço o que escrevo como quem alimenta uma tribo.


Darwin, Rubem, vocês me salvaram da camisa-de-força!




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