segunda-feira, 25 de maio de 2009

Bom dia! Meu nome é Marcos, sou oficial de justiça, etc, etc, etc...

Há um vilarejo ali... Onde areja um vento bom!
Bairro Santa Bárbara - São Francisco Xavier

Bairro do Pocinho - São Francisco Xavier

Meu trabalho, há mais de vinte anos, é mais ou menos assim: Cruzar as distâncias, descobrir os caminhos e encontrar um outro humano debaixo de um telhado qualquer. Mesmo quando ele se esconde. Era o que fazia quanto tirei as fotos acima.

Deixo uma mensagem, cumpro um papel, olho os olhos da outra pessoa e mostro os meus. Minha passagem às vezes provoca grandes mudanças! Há momentos em que a vida muda muito e muito rápido. Em alguns desses momentos quem faz a mudança, por ofício, sou eu. Raiva, choro, desespero, angústia, gente que se separa, tudo isso faz parte da minha rotina.

Mas como ensina o Paulinho Moska, nada é tão triste assim. Quando eu parto, deixo para trás seres que têm a capacidade incrível de cicatrizar as feridas e, principalmente, de aprender com os erros. Sempre que me permitem, tento deixar isso claro de alguma forma.

Troco experiências, ensino o que sei e aprendo o que sabem. Numas vezes sorrio e acontece de sorrirmos juntos. Algumas vezes me comovo, em outras me defendo. Às vezes me estendem a mão, às vezes não e, mesmo, às vezes estendem é tentando alcançar meu pescoço!

Depois eu parto à procura de outro caminho, cruzando outras distâncias, levando um pouco do último encontro e me preparando para o próximo...

Este é, em um resumo apertado, o meu trabalho. E me dei conta que resume também, de alguma forma, a minha vida.

Acho que hoje estou meio assim, sei lá.
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quarta-feira, 6 de maio de 2009

A poesia e o amor na vida real.

Flores simples e verdadeiras, em homenagem a um amor inesperado...

Cheguei à casa simples com notícias desagradáveis. Sempre levo notícias desagradáveis por força da profissão. O homem atendeu-me desconfiado e a desconfiança piorou quando soube que a intimação era dirigida à sua mulher. Equilibrava sua rispidez no limite do desrespeito e fazia de tudo para protegê-la, tentando de todas as formas evitar que eu a incomodasse. Minha teimosia profissional venceu e eis-me diante de uma mulher de cinquenta, cinquenta e cinco anos. Traz um braço e uma perna atrofiados e sem movimentos, sequelas da paralisia infantil. Pareceu-me honesta, transparente, decente mesmo. Mas é tensa, mal-humorada e agressiva. Tudo indica que não sou o único alvo de seu nervosismo, pois toma, como disse com uma ponta de orgulho, vários remédios todos os dias para controlar suas emoções.

Mas as cenas seguintes é que me marcaram profundamente: A cada vez que o marido percebia sua exaltação, desdobrava-se em atenção e carinho, sem pudores pela presença estranha e indesejada. Dirigia-se a ela com uma doçura que em tudo lembrava o mais apaixonado dos personagens de qualquer romance. Casaram-se há décadas. Entendem? Há décadas. Ela não ostenta um único sinal que lembre um modelo de sedução ou beleza. É uma senhora desgastada pela vida difícil, pela doença que imobilizou metade de seus membros ainda na infância. E pela pobreza. Casa humilde, fogão de lenha, pintura rústica que tenta esconder as marcas da enchente do ano passado. Ela diz que às vezes pensa que seria melhor morrer. Ele enche os olhos de lágrimas. Segura sua mão com força e pede (pede, mesmo!) que nunca diga uma coisa dessas, que ela é tudo pra ele. Percebendo que fiz tudo o que pude para acalmá-la e tratá-la com respeito, o homem apertou minha mão demoradamente e o agradecimento saiu do fundo do coração. Eu sei que foi.

Fui embora com dificuldade de me concentrar no próximo mandado. Não estou acostumado com um amor assim, que atravessa tantos anos traduzindo-se em cuidados, carinho, atenção e delicadeza. Que dura tanto, que supera tanto, que se assume tanto...