terça-feira, 23 de abril de 2013

Um suspiro e nada mais.




Essa gardênia linda é minha.

Eu, pelo menos, penso que é e nunca perguntei a opinião dela. 

Rego seu vaso todas as manhãs, digo bom dia, agradeço pelo perfume infinito que alegra meu café  e acompanho o nascer de cada botão. Aí está a flor aberta em toda sua beleza! Pena não haver download do aroma, você ficaria impressionado ou impressionada!

Acontece que essa moça, embora não se rebele contra a tolice de pensá-la minha, tem uma mania horrível! 

Suas flores morrem, acredita? Morrem! Essa da foto, por exemplo, em poucos dias vai seguir seu caminho, vai ficando amarelinha, depois marrom e... sem perfume algum, será apenas uma lembrança ressecada do que havia sido. Em seguida, desaparece lentamente.

Nada que eu faça impede ou retarda sua morte. E sempre que me despeço de cada uma, lembro que eu, ela, você, somos todos um pequeno suspiro biológico, um flash, acontecendo em um pontinho azul do universo.

Às vezes, isso me deprime. Queria o perfume das flores, o amor dos filhos, dos amigos, tudo para sempre, tudo sem fim, tudo sem medida. 

Mas a tristeza logo dá lugar a um sentimento de urgência: não dá para ficar lamentando muito, porque, sem regar direito, as flores deixam de aparecer e o meu próprio suspiro, com os segundos correndo, vai perdendo o encanto que poderia ter...

O jeito é encher o balde todas as manhãs e dar a cada ser o que é preciso para florir mais e melhor. Água, sorrisos, abraços, carinho, gentileza...  ir regando o que importa, o que faz diferença, o que colore, o que perfuma.

Não há tempo a perder. Ninguém ocupa o vaso para sempre.