terça-feira, 25 de agosto de 2009

Leite (bom) Derramado

Quem resiste a uma vizinha assim?


Em termos absolutos, sem relavitidade nenhuma e totalmente só. Digamos, solto (ou solta) no espaço: Quem é você?

No meu caso, acho que não seria ninguém. Não consigo imaginar partido o cordão umbilical que me vincula ao restante da humanidade.

Principalmente àquela porção da humanidade que se relaciona comigo, que me alimenta diretamente de afeto e conhecimento. Amigos, companheiros de risadas e choros, erros e acertos. Aproximando mais a lente, chego aos que dividem comigo um sobrado simpático, num bairro de casas e pessoas simples, mais simpático ainda. É ali que você encontra essa minha vizinha linda e perfumada aí de cima. Os três filhos que educo e me educam numa troca sem fim, são responsáveis de alguma forma pela forma que tenho hoje.

Carol, Matheus e Bela são três estudantes que ainda não trabalham e recebem de mim o estritamente necessário para viver e crescer, em todos os sentidos que conheço. Grana para quase nada, portanto.

Mas aconteceu de um deles ouvir meus comentários empolgados sobre o livro novo do Chico, Leite Derramado. E no último dia dos pais, três carteiras quase vazias ficaram vazias de verdade...

Estou adorando o livro! A prosa do Chico está cada vez mais precisa, rica e ritmada. Quando eu penso que ele não tem mais como melhorar, ele me vem com essa...

O protagonista, já muito velho, desfia suas lembranças para ouvintes reais ou imaginários e talvez o faça para ele próprio. A cada página, faço inevitavelmente o mesmo que ele. Nessa viagem pela memória, tem lugar de destaque a chegada de cada filho em minha vida. Sou pai porque quis ser, mais do que tudo que já desejei. Não foi por acidente que, um a um, eles foram se juntando ao meu caminho. Foi pela transformação dos meus sonhos em realidade, em uma metamorfose que se renova todas as manhãs. Não só os três que financiaram meu livro novo, mas também a Bezinha, que meu coração adotou porque não pode mais viver sem ela...

Não sei de quantas escolhas terei vergonha quando o final estiver (mais) próximo. Mas sei quais as que me enchem de orgulho e preenchem meus dias com a matéria mais rica do universo!

Solto no espaço? Eu seria só um coração cheio de saudade...



sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Fracassos e sucessos


Tenho pouco tempo hoje, mas não queria deixar de escrever nem de mostrar o ipê que encontrei pelo caminho, enquanto trabalhava. Desci do carro e pisei em um chão todo rosa. Você está vendo o que vi, quando olhei para o alto.

Um protesto, rapidinho:

Não sei se você tem a mesma impressão que eu. Mas acho nossa sociedade competitiva demais! Uma competição louca, que vai corroendo todos os aspectos da vida. Mesmo tentando manter-me longe da loucura, tenho a sensação de que há um classificador automático, rotulando meus dias, meses e anos em sucessos ou fracassos. Ou consegui, ou não consegui "vencer". Ou "superei" ou não. Não importa o quê.

Olha, isso cansa, viu? E leva muita energia, que a gente poderia usar de um jeito melhor e mais gostoso. A vida pode ser mais lúdica, sem ser irresponsável.

Em um desses dias em que tentava fugir do "fracasso" e "vencer" minha cota de produção, encontrei esse ipê em uma rua qualquer. Olhar de repente para o não humano, tão lindo e completo, deu-me um choque de realidade e fiquei pensando que nos tornamos escravos das lendas que criamos.

Fracassos e sucessos, lá no fundo, são nomes que inventamos para reprimir ou estimular comportamentos. Não se pode levar isso tão a sério a ponto de confundir nossa identidade com o conceito. Isso não tem nada a ver comigo, enquanto indivíduo. Nem com você.

Um ser humano, olhado de perto o suficiente, nunca é vencedor.

Nem vencido.

Nós existimos.

Somos.

E ponto final!


quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Não tem remédio...




Algumas coisas não têm remédio. Não adianta.

No próximo domingo vou comemorar meu 20º dia dos pais! O 17º duplo e o 15º triplo! Veja você: Vivo há décadas o atrito contra as dificuldades do cotidiano, removendo as pequenas e grandes pedras da rotina. Aprendi por necessidade o significado da palavra praticidade. Um homem com uma casa pra cuidar e três filhos pra educar não tem muito tempo a perder. Ok. Tenho tudo pra ser um homem prático, certo?

Pois é! Acontece que em todas as frestas do meu dia, no menor descuido, eu volto ao mesmo ponto em que estava nos primeiros arroubos de romantismo. E olha que isso foi quando John Lennon ainda cantava Imagine ao vivo! Ao mesmo ponto, não. Pior, eu diria... Naquela época não havia dentro de mim tanta poesia, tantas histórias, tantos filmes, livros, músicas, cheiros, texturas
, tantas memórias onde amores e prazeres foram vistos, imaginados, vividos...

Fui um menino romântico demais e sofri pra burro durante os 80's. Perdi a chance de me tornar menos vulnerável com a maturidade. O que me salva é que aprendi a disfarçar durante o dia...


Para um sujeito assim, Nina Simone é uma ameaça de parada respiratória. Mas se acontecer, serei cremado sorrindo. I Put a Spell on You é uma invasão de energia densa e mágica. Uma onda que vai levando pra dentro do mar, com promessas de paixão e prazer eternos. Ouvindo, apenas, já é uma viagem. Mas a presença dela, no vídeo, incendeia tudo! A sereia negra, maravilhosa, traz a força de uma vida intensa, de entrega, luta e beleza. Tudo junto e tudo em abundância. Agora é uma onda em chamas! E não tem jeito: Vou nadando atrás do encantamento, com uma certeza ridícula e absoluta de que não há nada melhor pra se fazer na vida...
I put a spell on you... I put a spell on you...

Este texto termina aqui por dois motivos: Primeiro, para você não se distrair muito e curtir o final da música em paz. Segundo, porque estou aprendendo a falar (e escrever) menos.

Algumas coisas, enfim, têm remédio...