quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Brilho eterno de uma mente sem lembranças





Ouço o tema do filme repetidamente há três dias. Não sei bem o motivo, como não sei bem quase nada em minha vida. No máximo, lembrando o Guimarães Rosa, desconfio de muita coisa.

O que sei é que tenho me sentido como o Joel, personagem do Jim Carrey, quando o filme começa. Parado na estação,  ele sente um impulso incontrolável de ir a um lugar específico, sem saber o porquê.  Seguindo o impulso vai parar  em Montauk, a praia aí de baixo, encontra a Clementine e a história segue. Mas, no meu caso, nem sei que lugar é esse. Mesmo assim a vontade não passa.

Labirintos da memória.






Há lembranças que nunca me deixam, como moscas teimosas que insistem em pousar e pousar e pousar de novo.  Às vezes lembro apenas de algo que senti, imaginei, desejei. É triste quando até o desejo vai ficando distante da gente, em branco e preto... Há recordações que quase não reconheço mais. Algumas eu queria perder no tempo, mas não perco. Lembro até de lembranças alheias, tristes ou felizes, que me contaram em segredo pelo caminho.

Alternam-se em meu cinema íntimo os muitos filmes do meu cotidiano. Dias doces e amargos. Sons  que gostei de ouvir: gargalhadas, melodias, gemidos, assobios. Palavras mágicas que escutei. Ou que ecoam até hoje porque eu quis escutar e nunca foram ditas. Vento frio em uma manhã de sol; bebê dormindo em meu peito; criança tomando banho de chuva; café coando; casal de mãos dadas; bala de coco; croissants e capuccinos; mãos em meu rosto; panetone; pisca-pisca; ovo de páscoa; cheiro de pele. Nectarina! Sentido nenhum. Sentido até o limite. Se há limite.


A vida é o que a memória conta. E não há duas iguais, lógico. Nenhum de nós vive a mesma cena que o outro, mesmo estando lado a lado, no mesmo instante. A memória é uma louca, que me fala de uma história sempre inventada: o que houve, diluído no que imaginei que houve. O que senti, misturado com o que achei que sentiram e eu estava errado. Ou então estava certo, mas não importa porque essa é uma chave que não tenho.


São apenas os labirintos da memória. 

E ela é louca. 

E minha vontade não passa.