Não sei se ela começa mesmo aos quarenta. Sei não... Pode ser paranóia, mas pressinto um sorriso irônico por trás dos rostos simpáticos que me dizem isso. Pra quem não sabe, começaram a dizer com frequência no último dia 09. Se você não me abraçou e desejou felicidades, muita saúde e tudo de melhor, não se desculpe. Você não sabia, poxa! E se sabia, melhor fingir que não. Eu acredito, juro!
Olha, vou ser honesto com você: eu não sei exatamente quando a vida começa, não sei como nem quando termina, nem se termina mesmo. Também não sei exatamente como viver, como sair das dificuldades e o pior: como é que eu entro nelas! Não tenho uma única receita infalível pra repartir, exceto, evidentemente, a do meu arroz com feijão. O literal, não o figurado. Estou aprendendo que a dúvida é uma alternativa saudável:
_ O que você acha?
_ Não sei.
_ Como não?
_ Mas você muda de pergunta toda hora, pô!
Pois é. Muitas vezes não sei mesmo e me sinto à vontade assim. Fico feliz por meus filhos terem um pai que consegue admitir a dúvida, mesmo em questões fundamentais, num mundo onde todo mundo tem sempre certezas. Certezas que às vezes são injustas, preconceituosas, equivocadas, cruéis. A dúvida me dá o direito de olhar as pessoas, a vida, a morte, os relacionamentos, tudo, por vários ângulos diferentes. Gosto muito disso! Pretendo fazer esse exercício publicamente agora, com o Blog. Sabe aquele dia em que você precisa de uma palavra definitiva? Não visite esse espaço nesse dia! Eu avisei...
Sobre o Blog:
Ele sim, começa aos quarenta. E por inspiração de amigos, que também "roubaram" a idéia de amigos queridos... Aí eu fiquei pensando: mereço os famosos cem anos de perdão. Depois deles, bem... depois deles "...dêem-me a cela que quiserem, que eu me lembrarei da vida..." (A Passagem das Horas). Vou trazer pra cá algumas poesias, porque a beleza é a exceção em minhas dúvidas: dela eu tenho certeza! Fernando Pessoa abre aqui o caminho, mas eu vejo poesia em tantas coisas, tanta gente, tantas cores, tantos sons, formas, cheiros, texturas, sorrisos, lambidas, mordidas, orgasmos... Na amizade, na mão estendida, na mão que segura a outra. Até na que solta! Porque poesia nem sempre é alegria.
Para aliviar a dor dos leitores que resistiram e chegaram até aqui, troco minha prosa sofrível por trechos de A Passagem das Horas. Ufa!!! Assim serão recompensados e verão o que de mim não sei mostrar de outra maneira:
...
Não sei se a vida é pouco ou de mais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consanguinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contactos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isso mais cómoda e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
...
(Álvaro de Campos - A Passagem das Horas).
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Gosto mais dos diálogos que dos monólogos. Mande pra cá o que está pensando!