terça-feira, 28 de abril de 2009
Rodando!
Ontem me senti o próprio Antonius Block, no Sétimo Selo do Bergman. Se alguém me achar exagerado, tem meu perdão porque não viu o que eu vi. Três, no máximo quatro anos. Mãos dadas em evidente aconchego com o pai (ou o avô, não importa), a expressão de satisfação máxima que um ser humano pode imaginar. Andava muito à vontade pela rua às oito, pijama rosa de flanela e chinelos minúsculos combinando. Um bicho de pelúcia levado pela orelha completava o quadro.
Pois bem: Depois da cena da família em volta de uma cesta de morangos silvestres e um pouco de leite repartido, Block encontrou o seu sentido para a vida. A morte vence a disputa em seguida... Corta!
Há duas diferenças fundamentais entre o cruzado e eu: Primeiro, que a cena que eu vi não me apresentou um sentido para a vida. Só resgatou o que tantas vezes vivi com meus próprios pequeninos, em tantas manhãs de outono. Quem sabe o tamanho deles, imagina quantas foram... Segundo, que eu não estou disputando coisíssima nenhuma com dona Morte, o que me dá direito de assumir o roteiro das próximas cenas.
Ainda não defini esse roteiro. Mas retirei do baú minhas anotações para o filme Felicidade é Possível. Por ora estou me alongando, me concentrando, mas, senhoras e senhores, aqui vou eu. Quem sabe quantos personagens ainda cabem nessa história? Eu não sei, mas está gostoso imaginar. A trilha sonora fica a cargo do meu violãozinho e não adianta reclamar, o diretor sou eu.
O que vem depois... depois eu conto.
sábado, 25 de abril de 2009
Tocando em Frente
Quem conhece a música, sacou logo como escolhi o nome do blog. Quem não conhece, não perca a chance! É uma delícia com gosto de broa de milho quentinha e café fresco... Essa foto é a lembrança de uma manhã em que vi São Francisco Xavier pequenininha, lá embaixo, com a Mantiqueira de braços enormes em volta.
Mas depois me ocorreu que há um motivo a mais: eu amo sorrisos. Como bom garimpeiro, separo bem rapidinho os falsos, os cínicos, os meramente sociais, dos verdadeiros sorrisos. Um de meus prazeres "Amélie Poulain" é ficar no parque observando as pessoas:
Sorriso de criança no gira-gira.
Sorrisos de amizade em torno do violão ou da poesia.
Sorrisos de amor! Quentes, plenos, intensos e cheios de promessas!
De agradecimento.
Para a mãe, para o filho, para o amigo e para o estranho...
Sorriso para mim! Às vezes, é para mim! E meu peito fica quentinho por uns instantes, satisfeito.
Mesmo que não sejam para mim, vou juntando um monte deles na bagagem. Há cada um tão lindo! Crianças e apaixonados são especialistas!
E levo esse sorriso...
Tocando em Frente
Ando devagar, porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte. Mais feliz... Quem sabe?
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei.
Eu nada sei.
Conhecer as manhas e as manhãs.
O sabor das massas e das maçãs.
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
E é preciso chuva para florir.
Penso que cumprir a vida seja simplemente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou...
Estrada eu sou.
Conhecer as manhas e as manhãs...
Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora. Num dia a gente chega, no outro vai embora.
Cada um de nós compõe a sua própria história.
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz.
Renato Teixeira/Almir Sater
Começa aos quarenta?
Não sei se ela começa mesmo aos quarenta. Sei não... Pode ser paranóia, mas pressinto um sorriso irônico por trás dos rostos simpáticos que me dizem isso. Pra quem não sabe, começaram a dizer com frequência no último dia 09. Se você não me abraçou e desejou felicidades, muita saúde e tudo de melhor, não se desculpe. Você não sabia, poxa! E se sabia, melhor fingir que não. Eu acredito, juro!
Olha, vou ser honesto com você: eu não sei exatamente quando a vida começa, não sei como nem quando termina, nem se termina mesmo. Também não sei exatamente como viver, como sair das dificuldades e o pior: como é que eu entro nelas! Não tenho uma única receita infalível pra repartir, exceto, evidentemente, a do meu arroz com feijão. O literal, não o figurado. Estou aprendendo que a dúvida é uma alternativa saudável:
_ O que você acha?
_ Não sei.
_ Como não?
_ Mas você muda de pergunta toda hora, pô!
Pois é. Muitas vezes não sei mesmo e me sinto à vontade assim. Fico feliz por meus filhos terem um pai que consegue admitir a dúvida, mesmo em questões fundamentais, num mundo onde todo mundo tem sempre certezas. Certezas que às vezes são injustas, preconceituosas, equivocadas, cruéis. A dúvida me dá o direito de olhar as pessoas, a vida, a morte, os relacionamentos, tudo, por vários ângulos diferentes. Gosto muito disso! Pretendo fazer esse exercício publicamente agora, com o Blog. Sabe aquele dia em que você precisa de uma palavra definitiva? Não visite esse espaço nesse dia! Eu avisei...
Sobre o Blog:
Ele sim, começa aos quarenta. E por inspiração de amigos, que também "roubaram" a idéia de amigos queridos... Aí eu fiquei pensando: mereço os famosos cem anos de perdão. Depois deles, bem... depois deles "...dêem-me a cela que quiserem, que eu me lembrarei da vida..." (A Passagem das Horas). Vou trazer pra cá algumas poesias, porque a beleza é a exceção em minhas dúvidas: dela eu tenho certeza! Fernando Pessoa abre aqui o caminho, mas eu vejo poesia em tantas coisas, tanta gente, tantas cores, tantos sons, formas, cheiros, texturas, sorrisos, lambidas, mordidas, orgasmos... Na amizade, na mão estendida, na mão que segura a outra. Até na que solta! Porque poesia nem sempre é alegria.
Para aliviar a dor dos leitores que resistiram e chegaram até aqui, troco minha prosa sofrível por trechos de A Passagem das Horas. Ufa!!! Assim serão recompensados e verão o que de mim não sei mostrar de outra maneira:
...
Não sei se a vida é pouco ou de mais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consanguinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contactos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isso mais cómoda e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
...
(Álvaro de Campos - A Passagem das Horas).
Olha, vou ser honesto com você: eu não sei exatamente quando a vida começa, não sei como nem quando termina, nem se termina mesmo. Também não sei exatamente como viver, como sair das dificuldades e o pior: como é que eu entro nelas! Não tenho uma única receita infalível pra repartir, exceto, evidentemente, a do meu arroz com feijão. O literal, não o figurado. Estou aprendendo que a dúvida é uma alternativa saudável:
_ O que você acha?
_ Não sei.
_ Como não?
_ Mas você muda de pergunta toda hora, pô!
Pois é. Muitas vezes não sei mesmo e me sinto à vontade assim. Fico feliz por meus filhos terem um pai que consegue admitir a dúvida, mesmo em questões fundamentais, num mundo onde todo mundo tem sempre certezas. Certezas que às vezes são injustas, preconceituosas, equivocadas, cruéis. A dúvida me dá o direito de olhar as pessoas, a vida, a morte, os relacionamentos, tudo, por vários ângulos diferentes. Gosto muito disso! Pretendo fazer esse exercício publicamente agora, com o Blog. Sabe aquele dia em que você precisa de uma palavra definitiva? Não visite esse espaço nesse dia! Eu avisei...
Sobre o Blog:
Ele sim, começa aos quarenta. E por inspiração de amigos, que também "roubaram" a idéia de amigos queridos... Aí eu fiquei pensando: mereço os famosos cem anos de perdão. Depois deles, bem... depois deles "...dêem-me a cela que quiserem, que eu me lembrarei da vida..." (A Passagem das Horas). Vou trazer pra cá algumas poesias, porque a beleza é a exceção em minhas dúvidas: dela eu tenho certeza! Fernando Pessoa abre aqui o caminho, mas eu vejo poesia em tantas coisas, tanta gente, tantas cores, tantos sons, formas, cheiros, texturas, sorrisos, lambidas, mordidas, orgasmos... Na amizade, na mão estendida, na mão que segura a outra. Até na que solta! Porque poesia nem sempre é alegria.
Para aliviar a dor dos leitores que resistiram e chegaram até aqui, troco minha prosa sofrível por trechos de A Passagem das Horas. Ufa!!! Assim serão recompensados e verão o que de mim não sei mostrar de outra maneira:
...
Não sei se a vida é pouco ou de mais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consanguinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contactos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isso mais cómoda e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
...
(Álvaro de Campos - A Passagem das Horas).
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